«Este livro
reúne textos sobre política e outros acontecimentos publicados na Visão,
entre 2005 e 2014. Não são “crónicas” porque não respeitam uma regularidade
cronológica nem estão necessariamente ligados a um evento, nem sequer a um
facto social ou histórico. Mas não são apenas “comentários” ou “artigos”, nem
anotações diarísticas. Nem tão pouco textos avulso de ficção, de observação
sociológica ou de filosofia política. Haverá neles de tudo isso um pouco. O
objectivo do autor foi procurar extrair sentido de uma acção política, de
relações raramente analisadas (entre a democracia e as crianças, por exemplo),
de analisar comportamentos extraordinários para os situar e compreender. No
fundo, podem considerar-se como microensaios, se tal designação não fosse ainda
pretensiosa. Procurou-se, afinal, detectar sempre forças de vida, isolá-las,
separá-las e libertá-las pela análise — quando num acontecimento, numa
experiência, na iniciativa política de um Governo, na decisão de um estadista,
na prática e no discurso dos responsáveis políticos, elas se confundem com
forças mortíferas. Desfazer a confusão, trazer à superfície o máximo de sentido
libertado, eis a finalidade destes escritos.
Deu-se
importância à política porque dela dependem as nossas vidas sociais e
individuais. Daí, em pano de fundo, nestes tempos de crise, a questão: porque é
que os portugueses se resignam? Porque é que não se revoltam? Porque é que
admitem tanta prepotência medíocre dos que os humilham, esmagam, lhes retiram,
dia após dia, as energias tão fundamentais para o país? Mais concretamente: que
mecanismos impedem os portugueses de se exprimir em democracia, permitindo ao
mesmo tempo a proliferação da asneira governativa?»
[Do Prefácio de José Gil]
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