«A generalidade dos
estudiosos concorda que a fonte principal de inspiração de Shakespeare para Bem
Está O Que Bem Acaba foi a história de Giletta di Narbona, que constitui a
nona novela do Terceiro Dia do Decameron, da autoria do italiano
Giovanni Boccaccio (1313-1375). É improvável que o dramaturgo inglês tenha lido
essa história no original italiano, e, por isso, têm sido aventadas duas
hipóteses sobre o texto a que ele terá tido acesso: uns entendem que
Shakespeare leu a história numa versão inglesa publicada em The Palace of
Pleasure de William Painter (1540?-1594), cujo primeiro volume veio a
público em 1566; outros defendem que o seu contacto com a história de Giletta
lhe foi proporcionado pela leitura da versão francesa — é sabido que
Shakespeare tinha alguns conhecimentos de francês —, da responsabilidade de
Antoine le Maçon, publicada em Paris em 1584. G. K. Hunter, na excelente
introdução à sua edição de All’s Well That Ends Well, desenvolve esta
questão com alguma profundidade, apresentando alguns dos argumentos que têm
sido invocados, quer a favor da hipótese Painter quer da hipótese Le Maçon, mas
não se decide por qualquer delas. (…)
O que Shakespeare foi
capaz de fazer melhor do que ninguém foi levar-nos a reflectir — através dos
comportamentos das personagens que adoptou e da forma como aproveitou histórias
conhecidas — sobre a vida, o homem (com as suas virtudes e os seus defeitos), a
natureza, a religião, etc., através da utilização de uma linguagem inovadora e
incomparavelmente vigorosa, criativa e poética.»
[Da Introdução de M. Gomes da
Torre]
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