Guerra e
Paz narra a invasão
da Rússia por Napoleão e os efeitos que o acontecimento teve na vida da
aristocracia, dos militares e da população envolvida no conflito.
A maior parte
dos oficiais era originária das famílias nobres e as separações e perigos da
guerra tornavam mais intensas todas as relações pessoais e, em particular, as
amorosas.
Os hábitos
sociais, as relações sentimentais e o declínio de algumas das mais importantes
famílias de Petersburgo e Moscovo são apresentados com distanciamento ou
irónica ternura.
Neste romance
surgiram algumas das mais perduráveis personagens da literatura, o íntegro
príncipe Andrei, o insólito Pierre Bezúkhov e a fascinante Natacha Rostova, que
se tornaria indispensável para qualquer um deles.
Com esta obra
e a sua apresentação em mosaico de grandes painéis da vida russa onde se
movimentam centenas de personagens num período de convulsões militares, Tolstoi
realizou o seu projeto de se confrontar com o Homero da Ilíada e da Odisseia.
«O maior de
todos os romancistas — que outra coisa poderíamos dizer do autor de Guerra e Paz!» [Virginia Woolf]
«O que é Guerra
e Paz?
Não é um
romance, nem um poema e ainda menos uma crónica histórica. Guerra e Paz
é o que autor quis e conseguiu exprimir, na forma em que está expresso. Uma tal
manifestação de negligência por parte de um autor com as formas convencionais
de uma obra em prosa poderia parecer presunção se fosse intencional e sem
precedentes. Mas a história da literatura russa, desde os tempos de Púchkin,
oferece múltiplos exemplos que se afastam dessa forma a que poderíamos chamar
europeia, não se limitando a oferecer-nos apenas um exemplo contrário. Desde Almas
Mortas de Gogol até A Casa dos Mortos de Dostoievski, no novo
período da literatura russa, não há uma única obra de arte em prosa, acima da
mediocridade, que se ajuste à forma de romance, poema épico ou conto.
O carácter
da época
Alguns
leitores, após o surgimento da primeira parte, disseram-me que o carácter da
época não estava suficientemente definido na minha obra. A esta crítica
respondo o seguinte: sei bem em que consiste o “carácter da época” que alguns
leitores não encontram na minha obra. São os horrores da servidão e da plebe,
as mulheres encerradas entre quatro paredes, as chicotadas nos filhos adultos,
etc. Não creio que este “carácter da época” que vive na nossa imaginação se
ajuste à verdade e não quis representá-lo. Nos meus estudos de cartas, diários
e tradições não encontrei nem atrocidades, nem violências maiores do que as que
se podem encontrar hoje ou em qualquer outra época (…).»
[Lev Tolstoi, em «Umas
palavras acerca de Guerra e Paz», publicado em 1868, na revista Antiguidade
Russa.]
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