Na revista Ler
de Maio de 2013, Filipa Melo escreve sobre Fala, Memória — Uma Autobiografia
Revisitada, de Vladimir Nabokov:
«Talvez o
segredo da beleza e mestria de Fala, Memória esteja no facto de ser uma
das mais poderosas homenagens ao poder da sensibilidade de uma criança, aqui
traduzido numa acumulação de detalhes rememorados com extrema exatidão pelo
adulto. É deles e da sua busca e aperfeiçoamento metódicos que nasce a perfeição
da forma deste livro. “A imaginação, suprema delícia do imortal e do imaturo,
devia ser limitada”, defende o escritor. Sim, a literatura nasce do poder de
observação. Paradoxalmente, este aumenta em proporção à posição distanciada do
observador e à riqueza do objeto observado. Nesta perspetiva, o caso de Nabokov
é único: a passagem para a idade adulta dá-se com a perda violenta (do pai, da
pátria, de fortuna, privilégios e poder) e o distanciamento radical e
definitivo (o exílio) da riqueza paradisíaca de um “passado perfeito”. Esta cisão
será o tema central desta autobiografia e a raiz do seu método.»
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