«Meu pai acreditava que todos os anos
se devia fazer uma cura de banhos de mar. E nunca fui tão feliz quanto
naquelas temporadas de banhos em Olinda, Recife. (…)O cheiro do mar me invadia
e me embriagava. As algas boiavam. Oh, bem sei que não estou transmitindo o
que significavam como vida pura esses banhos em jejum, com o sol se levantando
pálido ainda no horizonte. Bem sei que estou tão emocionada que não consigo
escrever. O mar de Olinda era muito iodado e salgado. E eu fazia o que no
futuro sempre iria fazer: com as mãos em concha, eu as mergulhava nas águas,
e trazia um pouco do mar até minha boca: eu bebia diariamente o mar, de tal
modo queria me unir a ele.»
[Clarice Lispector, in A Descoberta do Mundo]
Por acordo com a editora Relógio D’Água, o Ípsilon vai publicar nove crónicas de
Clarice Lispector, ou seja, uma por semana durante a Exposição que lhe é
dedicada na Fundação Calouste Gulbenkian. Os textos são extraídos de A Descoberta do Mundo.
Hoje, 31 de Maio, foi publicada «Banhos de Mar», de que acima
se transcreve um excerto.
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