«Ali em pé na
semiescuridão do terraço, de repente mais suave, veio-lhe outra revelação que
durou pois era o resultado intuitivo de coisas que ela pensara antes
racionalmente. O que lhe veio foi a levemente assustadora certeza de que os
nossos sentimentos e pensamentos são tão sobrenaturais como uma história
passada depois da morte. E ela não compreendeu o que queria dizer com isso. Ela
o deixou ficar, ao pensamento, porque sabia que ele encobria outro, mais
profundo e mais compreensível. Simplesmente, com o copo de água na mão,
descobria que pensar não lhe era natural. Depois refletiu um pouco, com a
cabeça inclinada para um lado, que não tinha um dia a dia. Era uma vida a vida.
E que a vida era sobrenatural.
Naquela hora
da noite conhecia esse grande susto de estar viva, tendo como único amparo
apenas o desamparo de estar viva. A vida era tão forte que se amparava no
próprio desamparo.»
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