«Talvez o
modo justo de começar uma resenha sobre um livro de Dalton Trevisan — qualquer
um — seja reconhecer, afinal, que estamos diante de um grande mestre da literatura
brasileira; mais que isso, diante do último sobrevivente de uma estirpe rara, a
dos criadores de linguagem. E para dar o toque bíblico que os mestres merecem,
acompanharemos o elogio do mesmo lamento que têm chorado os desgraçados
personagens daltonianos ao longo do mais consistente painel literário que o
país produziu nas últimas décadas. (…)
Dalton pinta
painéis, conjuntos bem amarrados de textos curtos que tanto mais força terão
quanto mais sejam percebidos em conjunto.
E não há como
escapar, gostemos ou não: a obra de Dalton Trevisan representa o trabalho
absolutamente solitário de um mestre, na estatura de uma vida inteira. Nenhum
outro escritor brasileiro, hoje, terá o impacto, o poder de síntese, a
violência, a absoluta, seca, irredimível brutalidade da frase de Dalton
Trevisan. Mas atenção: não se trata apenas do domínio técnico, do bom artesão
burilando sentenças, o parnasiano da desgraça - não são elas, as frases
enxutas, que nos tocam, mas o universo sufocante detonado por elas na cabeça do
leitor, palavra e visão de mundo inextricáveis no seu texto.» [Cristovão Tezza,
O Globo, Prosa&Verso, 26-04-1997]
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