O Expresso e os 50
livros que «toda a gente deve ler»
No suplemento Atual do último número do Expresso um conjunto de críticos
escolheu «meia centena de obras literárias e ensaísticas essenciais».
Trata-se de um grande
avanço em relação à habitual lista de livros para ler nas férias, muito vulgar
em períodos estivais. Por melhor romance policial que seja O Assassinato de Roger Ackroyd, de Agatha Christie, não é
certamente comparável a Crime e Castigo,
de Dostoievski.
Com 12 títulos
escolhidos, a Relógio D’Água é de longe a editora mais bem representada na
selecção feita. São eles Crime e Castigo,
de Fiódor Dostoievski, Macbeth, de
William Shakespeare, Madame Bovary,
de Gustave Flaubert, Retrato de Uma
Senhora, de Henry James, Em busca do
Tempo Perdido, de Marcel Proust, O
Vermelho e o Negro, de Stendhal, Poeta
em Nova Iorque, de García Lorca, As
Ondas, de Virginia Woolf, O Monte dos
Vendavais, de Emily Brontë, O Ofício
de Viver, de Cesare Pavese, Ensaios,
de Montaigne, e Debaixo do Vulcão, de Malcolm Lowry.
Os três últimos títulos
tiveram destaque especial por, respectivamente, Pedro Mexia, Henrique Monteiro
e Ana Cristina Leonardo.
Por outro lado, há
outras cinco obras editadas na Relógio D’Água e cujas edições referidas são de
outras editoras; é o caso de O Coração
das Trevas, de Joseph Conrad, Memórias
Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, Moby Dick, de Herman Melville, O
Grande Gatsby, de F. Scott Fitzgerald, A
Terra sem Vida, de T. S. Eliot (A Terra Devastada, na edição da Relógio
D’Água), e ainda Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de
Cervantes. Ignoramos o critério seguido nestas opções entre editoras, mas não
terá sido provavelmente a qualidade das traduções, já que na Relógio D’Água a
edição de Dom Quixote é de José
Bento, A Terra Devastada de Gualter
Cunha, Moby Dick de Alfredo Margarido
e Daniel Gonçalves, e O Grande Gatsby
de Ana Luísa Faria.
De notar ainda que três
dos clássicos escolhidos terão nos próximos meses novas traduções na Relógio
D’Água. Guerra e Paz, de Tolstói,
será traduzido por António Pescada, Ulisses,
de James Joyce, por Jorge Vaz de Carvalho, e Lolita, de Vladimir Nabokov, por Margarida Vale de Gato.
Mas se a escolha do Expresso tem o mérito de fugir a uma
lógica estival, a verdade é que é uma selecção entre outras possíveis. Basta
pensar na ausência de Sonetos ou Os Lusíadas, de Camões, Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, Anna
Karénina, de Tolstói, de Middlemarch,
de George Eliot, de Os Irmãos Karamázov,
de Dostoievski, Folhas de Erva, de
Walt Whitman, Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa, A Morte de Virgílio, de Hermann Broch,
ou Memórias de Adriano, de Marguerite
Yourcenar.
No mesmo número do Atual, Pedro Mexia escreve sobre a
edição de 50 Poemas, de Tomas Tranströmer, traduzido do sueco por Alexandre
Pastor: «Celebradíssimo na Suécia, traduzido em dezenas de línguas, canónico
nas antologias internacionais, Tomas Tranströmer está longe porém de ser uma
figura conhecida fora do circuito poético. Octogenário, ferozmente discreto, há
mais de vinte anos que vive retirado e incapacitado, na sequência de um
acidente vascular cerebral. A atribuição do Prémio Nobel justificou enfim uma
tradução portuguesa substancial (havia poemas em obras colectivas, incluindo os
pouco interessantes poemas “portugueses”). Alexandre Pastor, o nosso homem em
Estocolmo, traduziu 50 textos que representam cinquenta anos de uma produção
vigiada, com uma escassa dezena de colectâneas, de 17 Poemas (1954) a O Grande
Enigma (2004).»
No Público de 18 de Agosto, Susana Moreira Marques escreveu sobre
Hélia Correia: «Atrás de Lillias Fraser,
romance de 2001, voltamos ao século XVIII, fugimos por campos de sangue na
Escócia, passamos por Lisboa, o mundo cai e reconstrói-se. No sexto artigo da
série, visitamos a casa de Hélia Correia, onde as paredes falam e a inspiração
não passa de moda.»
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