«Quinta-feira (30 de Maio), as livrarias dos
Estados Unidos começam a receber quatro livros (Perto do Coração Selvagem,
Água Viva, A Paixão Segundo G. H. e Um Sopro de Vida) de Clarice
Lispector traduzidos para o inglês, todos pela editora New Directions, que já
lançou no ano passado A Hora da Estrela. O facto teve repercussão na
imprensa, com o jornal Los Angeles Times a citar a frase de um
antigo tradutor de Clarice (1920-1977), Gregory Rabassa, que comparava a autora
brasileira a Marlene Dietrich (na aparência) e a Virginia Woolf (no estilo).
“A maneira chocante com que fala dos grandes
temas é a característica da sua prosa que mais desperta a atenção do leitor
americano”, afirma Benjamin Moser, organizador dos lançamentos e grande
divulgador da prosa de Clarice entre os seus conterrâneos, especialmente depois
de publicada a tradução em inglês de sua biografia Clarice, lançada em
2009 pela Cosac Naify. “São assuntos que, no nosso dia-a-dia, não temos coragem
de enfrentar – a vida, a morte, Deus – e que são os grandes temas universais,
independentemente de detalhes superficiais, como a nacionalidade do leitor.”
Os quatro volumes chegam com um delicado
projecto gráfico: juntas, as capas reproduzem uma foto de Clarice jovem. E, num
canto, são reproduzidos elogios de personalidades literárias como Jonathan
Franzen (“Uma escritora verdadeiramente notável”), Orhan Pamuk (“Uma das mais
misteriosas autoras do século XX”) e Colm Toíbín (“Um dos génios ocultos do
século XX”), além de uma citação do jornal The New York Times (“A
principal escritora latino-americana de prosa do século”).
No Brasil, os livros de Clarice são um dos bens
mais preciosos do catálogo da editora Rocco, que prepara vários lançamentos a
partir do segundo semestre. Em Outubro, por exemplo, deve sair a colectânea Clarice
na Cabeceira - Jornalismo, que vai reunir textos publicados na
imprensa ao longo de quase quatro décadas. Organizada por Aparecida Maria
Nunes, a obra pretende oferecer uma amostra consistente da forma singular como
Clarice praticava o jornalismo, seja no papel de repórter, entrevistadora,
colunista de páginas femininas ou cronista, além de ajudar a traçar um perfil
do próprio jornalismo brasileiro nesse período.
Também a obra infanto-juvenil da escritora vai
ter nova edição, com um projecto gráfico reformulado e volumes em capa dura. Os
primeiros serão A Vida Íntima de Laura, ilustrado por Odilon Moraes, e
A Mulher Que Matou os Peixes, por Renato Moriconi.
Trecho de uma carta de Pedro Almodóvar a
Benjamin Moser:
“Esse livro (Um Sopro de Vida)
provocou em mim um efeito similar ao dos primeiros romances que li do
sul-africano J. M. Coetzee. Cada frase acumula tal quantidade de significados,
é tão densa, rotunda e rica que eu preciso de parar antes de sentir um impacto
semelhante a embater com uma parede (…)
O romance é recheado de frases memoráveis sobre
a criação literária e a passagem do tempo, o desespero e a multiplicidade
humana, incluindo a necessidade de se falar de si mesmo, a procura por um
interlocutor e o facto de se encontrar isso dentro de si mesmo.”»
[Citação de Ubiratan Brasil, via blogue Autores e Livros]
(capa da edição da Rocco)
A Relógio D’Água vai editar ainda este ano Um
Sopro de Vida, a maior parte da obra infanto-juvenil de Clarice Lispector e
os seus textos jornalísticos, reunidos em Só para Mulheres e Correio
Feminino num trabalho com organização de Aparecida Maria Nunes
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