«Lisboa
No bairro de Alfama os carros eléctricos amarelos chiavam
nas subidas.
Ali havia duas prisões. Uma era para ladrões
que acenavam através das grades.
Gritavam, queriam ser fotografados.
“Mas aqui”, disse o guarda-freio com um risinho de
hesitação:
“aqui estão os políticos.” Olhei para a fachada, a fachada,
a fachada,
e no último andar, a uma janela, vi um homem
com um binóculo a olhar para o mar.
Roupa que fora lavada secava pendurada ao sol. As pedras dos
muros estavam quentes.
As moscas liam cartas microscópicas.
Seis anos mais tarde, perguntei a uma senhora de Lisboa:
“Aquilo era mesmo verdade ou fui eu que sonhei?”»
Em tradução do sueco de Alexandre Pastor, a Relógio D’Água
vai publicar, no início de Julho, uma significativa antologia da poesia de
Tomas Tranströmer, Prémio Nobel da Literatura em 2011 e um dos grandes poetas
nórdicos ao lado de Aspenström, Ekelöf e Martinson.
Na nota introdutória, Alexandre Pastor refere: «Mas não só
por isso. Tranströmer é diferente porque começou por não querer viver da
literatura. Estudou línguas e é formado em psicologia. Trabalhou em
estabelecimentos correccionais com jovens delinquentes, oportunidade única para
pôr o pé nos bastidores da sua sociedade.»
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