20.3.12

Água Viva, de Clarice Lispector




«De facto, [Água Viva] não se parece com nada que tivesse sido escrito na época, no Brasil ou em qualquer outro lugar. Os seus parentes mais próximos são visuais ou musicais, uma semelhança que Clarice enfatiza ao transformar a narradora, uma escritora, nas versões iniciais, numa pintora; na altura, ela mesma dava os primeiros passos na pintura.

(…) Clarice compara o livro a aromas (“O que estou fazendo ao te escrever? estou tentando fotografar o perfume”), a sabores, (“Como reproduzir em palavras o gosto? O gosto é uno e as palavras são muitas”) e ao tacto, embora a sua metáfora mais insistente seja em relação ao som: “Sei o que estou fazendo aqui: estou improvisando. Mas que mal tem isso? Improviso como no jazz improvisam música, jazz em fúria, improviso diante da platéia.” Isto é música abstracta, “uma melodia sem palavras”.

Livre dos constrangimentos de um enredo ou de ter de contar uma história, Água Viva é, todo ele, a crista da onda.»

Benjamin Moser, Clarice Lispector — Uma Vida

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