O crescente poder negocial dos editores brasileiros e a aplicação do Acordo Ortográfico vão acentuar as graves distorções na publicação de livros em Portugal.
A Relógio D’Água vai lançar uma antologia de J. M. Keynes, A Grande Crise e Outros Textos, antes mesmo de poder divulgar a sua obra principal, A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, a mais importante contribuição para a teoria económica no século XX. Isto porque um editor do Brasil adquiriu os direitos para toda a língua portuguesa e recusou a sua subcedência, por tencionar usar o Acordo Ortográfico para relançar a exportação da obra para Portugal, Angola e Moçambique.
Também a edição das Obras Escolhidas de Freud na Relógio D’Água teve um percurso irregular por uma editora brasileira ter adquirido direitos para a língua portuguesa. Foi assim que publicámos várias obras de Freud no período em que este esteve no domínio público, quando este se iniciava 50 anos após a morte do autor. Conseguimos negociar recentemente seis títulos de Freud. Os restantes só podem sair a partir de Janeiro de 2010, quando Freud regressar de novo ao domínio público (agora 70 anos post mortem).
O mesmo problema existe para O Ser e o Tempo de Heidegger, e muitas outras obras de referência.
Poderá dizer-se que para o leitor português não há grande diferença entre adquirir uma obra editada em Portugal ou no Brasil, desde que a possa fazer numa livraria do nosso país. Ora não só a sintaxe da língua se mantém diferente e o Acordo deixa em aberto soluções alternativas, como a terminologia científica em psicanálise e economia e outras disciplinas é muito diferente nos dois países.
As obras publicadas no Brasil com direitos para toda a língua portuguesa muitas vezes nem sequer chegam cá e quando aparecem é a um preço exorbitante e apenas em Lisboa ou no Porto. Além disso, as traduções não passam pelo crivo da crítica portuguesa, ficando os leitores na ignorância prévia de se vale ou não a pena comprar o livro.
A situação só poderá ser atenuada com uma estratégia das editoras portuguesas que passe por uma negociação antecipada com as agências internacionais, um investimento mais selectivo em obras de referência, e a instalação no mercado brasileiro – quer directamente, quer por associação com editoras aí existentes.
Francisco Vale
A Relógio D’Água vai lançar uma antologia de J. M. Keynes, A Grande Crise e Outros Textos, antes mesmo de poder divulgar a sua obra principal, A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, a mais importante contribuição para a teoria económica no século XX. Isto porque um editor do Brasil adquiriu os direitos para toda a língua portuguesa e recusou a sua subcedência, por tencionar usar o Acordo Ortográfico para relançar a exportação da obra para Portugal, Angola e Moçambique.
Também a edição das Obras Escolhidas de Freud na Relógio D’Água teve um percurso irregular por uma editora brasileira ter adquirido direitos para a língua portuguesa. Foi assim que publicámos várias obras de Freud no período em que este esteve no domínio público, quando este se iniciava 50 anos após a morte do autor. Conseguimos negociar recentemente seis títulos de Freud. Os restantes só podem sair a partir de Janeiro de 2010, quando Freud regressar de novo ao domínio público (agora 70 anos post mortem).
O mesmo problema existe para O Ser e o Tempo de Heidegger, e muitas outras obras de referência.
Poderá dizer-se que para o leitor português não há grande diferença entre adquirir uma obra editada em Portugal ou no Brasil, desde que a possa fazer numa livraria do nosso país. Ora não só a sintaxe da língua se mantém diferente e o Acordo deixa em aberto soluções alternativas, como a terminologia científica em psicanálise e economia e outras disciplinas é muito diferente nos dois países.
As obras publicadas no Brasil com direitos para toda a língua portuguesa muitas vezes nem sequer chegam cá e quando aparecem é a um preço exorbitante e apenas em Lisboa ou no Porto. Além disso, as traduções não passam pelo crivo da crítica portuguesa, ficando os leitores na ignorância prévia de se vale ou não a pena comprar o livro.
A situação só poderá ser atenuada com uma estratégia das editoras portuguesas que passe por uma negociação antecipada com as agências internacionais, um investimento mais selectivo em obras de referência, e a instalação no mercado brasileiro – quer directamente, quer por associação com editoras aí existentes.
Francisco Vale
Obras Escolhidas de Freud publicadas na Relógio D’Água:
Uma Recordação de Infância de Leonardo da Vinci
Psicopatologia da Vida Quotidiana
Moisés e Monoteísmo
Totem e Tabu
Sobre os Sonhos
O Mal-Estar na Civilização
Autobiografia Intelectual
Para Além do Princípio do Prazer
Três Ensaios sobre Teoria da Sexualidade
A Interpretação dos Sonhos
A publicar:
Cinco Lições sobre Psicanálise
Os «Ditos de Espírito» na sua relação com o Inconsciente
A Gradiva de Jensen
Luto e Melancolia
Sobre o Narcisismo
Inibição, Sintoma e Angústia
Porquê a Guerra? (com Albert Einstein)
Cinco Psicanálises (Dora, O Homem dos Lobos, O Homem dos Ratos, O Pequeno Hans e O Presidente Schreber)
Cinco Lições sobre Psicanálise
Os «Ditos de Espírito» na sua relação com o Inconsciente
A Gradiva de Jensen
Luto e Melancolia
Sobre o Narcisismo
Inibição, Sintoma e Angústia
Porquê a Guerra? (com Albert Einstein)
Cinco Psicanálises (Dora, O Homem dos Lobos, O Homem dos Ratos, O Pequeno Hans e O Presidente Schreber)
Inacreditável. Depois dizem que o Novo (des)Acordo Ortográfico nos vai beneficiar... Tanto quanto me parece já perdemos a independência económica da nossa própria Língua para uma ex-colónia.
ResponderEliminarEu não comprarei nada dessas editoras brasileiras, se não houver edições de cá, prefiro ler em inglês (menos irritante de ler do que qualquer livro brasileiro - infelizmente já tive que ler alguns para a faculdade devido a não haver tradução em português de Portugal).
ResponderEliminarEspero que ainda haja um modo desse acordo se anular (há que se manter a esperança).
Penso que as editoras portuguesas deviam ter começado a pensar há mais tempo e com mais consistência no mercado dos PALOP. Por que acham que os brasileiros fizeram tanta questão de aprovar o acordo? Por que gostam do sotaque? O coração verde e amarelo bate firme, firmemente pelos reais...
ResponderEliminarLamentável. É um grave problema para os portugueses e não só. Já tentei ler livros de fantasia em português do Brail e parei nas primeiras páginas. A linguagem não é exactamente a mesma, a gramática é diferente, enquanto vários tradutores portugueses mantêm vários nomes na sua forma original (nomeadamente nomes de personagens e objectos) os brasileiros têm tendência a traduzir tudo. Não imagino o problema que iria ser ter de ler ensaios e livro técnicos nessa versão do protuguês. A manter-se esse problema, vou começar a dar mais uso ao inglês e quem sabe também ao francês.
ResponderEliminarHá que fazer no Brasil o que as editoras brasileiras fazem, ou querem fazer, cá. Comprar direitos de publicações e vender no Brasil os livros portugueses. É isso que fazem os espanhóis em relação à América de expressão hispânica e o Reino Unido por esse mundo fora. Não devemos é ficar de braços cruzados, a chorar sobre leite derramado...
ResponderEliminarSe mudassem "brasileiros" por "portugueses" poderíamos afirmar que estes comentários, e boa parte do texto (Francisco Vale) foram escritos cá, no Brasil.
ResponderEliminarOs problemas que relatam são os mesmos que nós, brasileiros, sentimos.
Os preços dos livros portugueses no Brasil também são exorbitantes.
Não conheço uma pessoa se quer que tenha feito questão de aprovar este acordo. Por mim, apenas explodiria com a crase e jamais teria eliminado a trema.
É. Não basta ter uma língua em comum. É necessário também uma grande dose de boa vontade para compreender o outro.
Abraços,
lao
Esse "acordo" (sic) é uma grande idiotice, além de um golpe das editoras. As diferenças entre o português de Portugal e do Brasil vão muito além de um trema aqui ou de um acento agudo ali. Como foi dito acima, há diferenças de sintaxe, vocabulário, etc. que o "acordo" não resolve - e nem tem de resolver.
ResponderEliminarDeixemos cada um dos irmãos lusófonos falar conforme sua tradição, e procuremos nos entender assim mesmo, como aqui estamos no entendendo, sem precisar de "acordo" nenhum.
http://liberdadedeexpressao.multiply.com
Porque não se separam logo esses dois idiomas em português e brasiliano? Porque se insiste ainda nessa grande mentira chamada lusofonia? Mentira essa que não passa de uma artimanha de Portugal para manter sob sua influência econômica e cultural suas ex-colônias da África . O Brasil não vai perder nada, a ascensão econômica e politíca do Brasil no mundo é inevitável e com ela o poder do idioma brasiliano. Sabemos que a língua de um país não é nada em termos de destaque e prestígio se esse país não tiver poder. Então, é só o Brasil promover sozinho seu idioma, que aliás já é bem procurado, pois a maioria dos estrangeiros que estuda o português faz por causa da influência do Brasil, e o resto deixa por conta da força da cultura de seu povo, que não é nada pequena.
ResponderEliminarAté onde sei, os direitos de publicação são para cada país, e não para a língua portuguesa como um todo. Logo, o acordo não afectaria este aspecto em particular.
ResponderEliminarMesmo assim, a própria Relógio D'Agua já lançou a "Teoria Geral" de Keynes. Logo, a reclamação não parece ter sentido algum.