25.10.24

Sobre Caos e Ritmo, de José Gil

 O que é pensar? O que é agir? O que é pensar e agir para criar? Em todos os casos, não basta evocar o “destino” ou o “inconsciente” para designar os factores que intervêm, é necessário descrever os mecanismos exactos e as forças que os movem. No tratamento psicanalítico de uma criança, no comportamento homicida de Macbeth, na criatividade “delirante” de Artaud, interferem forças poderosas que se afastam da racionalidade lógica e pragmática habitual. Descobrem-se os nexos claros da magia. Como é que estes processos irracionais podem culminar num objecto com sentido? Inversamente, a exploração do que se esconde sob o rigor da razão mais pura (como a que comanda o trabalho de um Espinosa) abre um mundo novo ao pensamento. O discurso filosófico, a invenção matemática, a criação poética, as sequências de movimento de um bailado, as posturas do ioga, a arte contemporânea ou a retórica do populismo mais desvairado obedecem a regras precisas, não formuladas pela razão. Regras que nascem do caos e que marcam o ritmo.

O que é o caos e o que é o ritmo? De Hesíodo a Paul Klee e à teoria física do caos, de Platão a Olivier Messiaen, colhem-se ideias que ajudam a compreender como as forças do caos podem passar para o outro lado, ritmando a ordem — ou podem falhar, fracassar e vir a destruir perversamente. O que se joga na construção do “eu” ilustra bem essa alternativa. Forças de vida ou de morte, que voltam para o caos. E hoje mesmo, perante a possibilidade real de uma catástrofe planetária, não é o caos destrutivo que nos ameaça?

Caos e Ritmo procura pensar o que nos acontece, ao nível mais concreto do inconsciente, do sensível e do corpo, bem como ao nível mais abstracto do pensamento e da visão. É um livro sobre a criação, sobre os seus poderes e os seus impasses.


Caos e Ritmo (2018) e outras obras de José Gil estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/jose-gil/

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