16.8.24

Sobre Azul de Agosto, de Deborah Levy

 «Pouco depois de ter pintado o cabelo de azul, Elsa M. Anderson, famosa pianista de 34 anos, abandona a meio o “Concerto para Piano Nº 2” de Rachmaninov, saindo do palco no Salão Dourado, em Viena, depois de dois minutos e 12 segundos em que se desligou da orquestra, tocando outra coisa, música sua que o maestro depressa silenciou. Naquela noite dá-se como que um rasgão na sua vida. Tudo o que fora até àquele momento começa a “desmanchar-se” e a sua existência, cada vez mais “porosa”, passa a ser uma procura de sinais, de “razões para viver” e de ajustes de contas há muito adiados com as suas origens.

Em “Coisas Que não Quero Saber”, primeiro livro de uma notável trilogia autobiográfica, Deborah Levy assumia que a “hesitação” é o elemento essencial da sua escrita. Este novo romance prova-o à saciedade. A protagonista foge de si mesma e, ao fazê-lo, deambula por várias paisagens naturais e urbanas (uma ilha grega, Londres, Paris, a Sardenha), hipoteca o seu talento a dar aulas a adolescentes pouco talentosos, reflete sobre o mundo marcado pela pandemia de covid-19 (já depois dos grandes confinamentos, mas numa altura em que “as pessoas continuavam com medo”), atravessa de uma ponta à outra o espectro da melancolia e transforma a sua deriva, geográfica e mental, numa linguagem de pura fluidez, ao mesmo tempo levíssima e grave, cheia de hiatos, alusões e elipses.» [José Mário Silva, E, Expresso, 9/8/2024: https://expresso.pt/revista/culturas/livros/2024-08-08-livros-a-arte-da-fuga-em-azul-de-agosto-de-deborah-levy-4a45a93b]


Azul de Agosto (tradução de Alda Rodrigues) e outras obras de Deborah Levy estão disponíveis em https://www.relogiodagua.pt/autor/deborah-levy/

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