12.8.24

Lydia Davis em entrevista a Isabel Lucas


«Todas as 144 histórias reunidas em Os Nossos Desconhecidos podiam ter sido verdade ou foram (algumas). O trabalho da escritora norte-americana foi dar-lhes forma. Algumas têm autobiografia, mas isso não importa. Falam de envelhecimento, vizinhança, trazem o campo e a cidade, insectos, legumes, líquenes, casamentos, viagens de comboio, o desconcerto ante o mundo a partir de múltiplas perspectivas, como a de um velho que perdeu a memória e continua a ter sentido de humor. A morte, a doença, uma certa nostalgia, o modo de conceber a escrita, as leituras e os seus efeitos. Chamam-lhe miniaturista, a escritora mais concisa, ela diz que procurou não repetir fórmulas e chegar à sua própria maneira de narrar. […]

Isabel Lucas — Muitas destas histórias nascem de coincidências ou de mal-entendidos…

Lydia Davis — Sim, e muitos desses mal-entendidos acontecem em diálogos curtos. É comum ouvirmos pedaços de conversas de desconhecidos e depois passarem pela nossa cabeça tantos pensamentos sobre esses estranhos — e muitos são cómicos. O incidente acontece. Se eu fosse uma escritora de contos tradicional faria disso apenas uma cena numa viagem que uma mulher estivesse a fazer, a tirar sentidos de pedaços de conversas que ouve, mas isso não me interessa. Quero isolar o momento e pensar no contraste entre duas expressões, por exemplo fun em inglês e fun em mandarim [uma espécie de massa de arroz], e aonde isso nos poderia levar.» [Entrevista de Lydia Davis a Isabel Lucas, ípsilon, Público, 9/8/2024: https://www.publico.pt/2024/08/09/culturaipsilon/entrevista/lydia-davis-eua-estao-divididos-ha-grau-crueldade-nao-existia-2100004?ref=culturaipsilon&cx=stories_cover__breaking_a--820747]


Os Nossos Desconhecidos (tradução de Inês Dias) e outras obras de Lydia Davis editadas pela Relógio D’Água estão disponíveis em https://www.relogiodagua.pt/autor/lydia-davis/

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