21.6.24

Sobre O Conteúdo da Felicidade, de Fernando Savater

 


«Na memória, de resto, a felicidade é qualquer coisa como um poço de beatitude em que nada acontece e nada falta: um espaço em branco, mas de um branco brilhante. Daí que Tolstoi afirmasse que as famílias felizes não têm história; e Hegel, que os períodos de felicidade são como vazios na história dos povos. Outro paradoxo, pois: a felicidade é uma das formas da memória, mas também como que o reverso amnésico da mesma. Recordamos o momento feliz como aquele em que nos esquecemos de tudo o resto. É precisamente porque não há realmente nada que contar da felicidade que nos agarramos à sua recordação — à recordação de um vazio, de um espaço em branco, de uma perda — com a força inamovível e algo ridícula de um ato de fé. Enquanto objeto conceptualizável, a felicidade é opaca, revela‑se refratária à tarefa reflexiva. A sua expectativa ou a sua nostalgia dão que pensar, mas ela própria — enquanto presença recordada — não.»


O Conteúdo da Felicidade (trad. Francisco Vale) está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/o-conteudo-da-felicidade-2/

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