11.3.24

Sobre MANIAC, de Benjamín Labatut

 



«Benjamín Labatut, originalíssimo escritor chileno, volta a transformar figuras da ciência — com as suas obsessões, crises e dilemas — em assombrosas personagens literárias. […]

Em MANIAC, o escritor chileno, nascido em 1980, prossegue no mesmo caminho de exploração literária, mas sem se limitar a repetir a fórmula que resultou. Tal como no livro anterior, este romance heterodoxo compõe-se de partes autónomas, com subtis vasos comunicantes que acabam por unir as três histórias principais. A primeira é uma espécie de mergulho áspero nas grandes tensões que atravessaram a ciência do século XX, representadas aqui pela consciência atormentada do físico austríaco Paul Ehrenfest (1880-1933), um teórico brilhante, amigo de Einstein, que mereceu o respeito de Niels Bohr ou Paul Dirac, apesar de não ter feito grandes descobertas revolucionárias.

Logo na primeira página ficamos a conhecer o seu triste fim: aos 53 anos deu um tiro na cabeça do filho de 15 anos, que sofria de síndrome de Down, e matou-se de seguida. Ao participar na já referida Conferência de Solvay, Ehrenfest sentiu que se cruzara uma “fronteira”, para lá da qual a irracionalidade e o caos começavam a invadir as fundações da realidade, abrindo caminho a “uma força obscura, inconsciente, que estava lentamente a insinuar-se na visão científica do mundo”. Ao mesmo tempo erguia-se o espectro cada vez mais ameaçador do nazismo, um horizonte de terror que o levou a cair na espiral suicida. 

No fundo, o que Labatut procura em Ehrenfest é o mistério humano de alguém que foi devorado pelo tempo e pela consciência de não conseguir atingir aquilo que “buscava incansavelmente” — a saber, “o ponto crucial, o cerne da questão”, algo que representasse uma verdadeira compreensão da natureza mais profunda das coisas, o que implicava “reconhecer conexões, significados e associações em todas as direções”.

Esse desígnio acabou por ser perseguido furiosamente, genialmente, e por vezes ignominiosamente, por Johnny von Neumann (1903-1957), o matemático judeu, de origem húngara, considerado por muitos o ser humano mais inteligente do século XX.» [José Mário Silva, E, Expresso, 8/3/2024]


MANIAC, de Benjamín Labatut (tradução de José Miguel Silva), está disponível em https://www.relogiodagua.pt/produto/maniac/

Sem comentários:

Enviar um comentário