1.3.24

Benjamín Labatut em entrevista a Isabel Lucas, no ípsilon, a propósito da recente edição de MANIAC

 



«Sentado no que parece ser um terraço de madeira rodeado de vegetação, Benjamín Labatut (n. 1980) acende uma cigarrilha antes de começar a falar do seu livro mais recente, MANIAC, um romance em três histórias ou actos, com um coro. O título tem o nome de uma “máquina” – “nunca um título me foi tão óbvio”, confessa – com tanto de demoníaco como de miraculoso. Foi inventada por John von Neumann (1903-1957), talvez uma das mentes mais brilhantes do século XX, como o livro sugere, cientista norte-americano de origem húngara que participou no Manhattan Project (programa de investigação e desenvolvimento que levaria à criação das primeiras armas nucleares, liderado pelos EUA, na II Guerra Mundial) e lançou as bases da computação que levaram à construção do computador MANIAC.

Von Neumann é a personagem que directa ou indirectamente atravessa o romance através dos modos como o olharam e com ele conviveram familiares, colegas de trabalho. Com ele, entramos no mundo dos dilemas, das obsessões e dos paradoxos das descobertas tecnológicas, saindo da Europa de antes da II Guerra Mundial, parando nos Estados Unidos e no projecto que levou à criação da bomba atómica, até aos jogos que serviram de ensaio ao que hoje designamos por inteligência artificial, aplicados a um jogo popular na Ásia, o go.

Terrivelmente perturbador, inteligente, com uma escrita a exacerbar a ambiguidade do que é ser-se humano sem, como refere o escritor nesta conversa a partir do Chile, nunca cair na humanização, em MANIAC o campo é o do diabólico, sem julgamentos. E no meio há a pessoa, plural, e o abismo permanente que tem adiante em que cai ou só não cai por pouco. Eis o último livro do contista, ensaísta e romancista chileno. Tem a estrutura de um ritual e começa com um sacrifício.» [Isabel Lucas, ípsilon, 1/3/2024: https://www.publico.pt/2024/03/01/culturaipsilon/entrevista/benjamin-labatut-segredo-mal-necessario-incrivelmente-doloroso-2081847]


MANIAC, de Benjamín Labatut (tradução de José Miguel Silva), está disponível em https://www.relogiodagua.pt/produto/maniac/

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