«Se quiséssemos encontrar um parente não muito afastado para este novo livro de Gonçalo M. Tavares talvez pudéssemos recorrer a uma conhecida imagem do filósofo alemão Walter Benjamin, aquela do anjo da história que, tendo o rosto voltado para o passado, vê apenas uma catástrofe contínua. Gostaria de parar, despertar os mortos e juntar os destroços, mas algo o impele para o futuro e ele vê apenas – regista – um amontoado de escombros que cresce até ao céu. Com algumas diferenças, no entanto: a figura espectral por detrás de As Botas de Mussolini não pretende resgatar nada, mas apenas dar conta dessa tragédia – isto é, também, contar –, colocar o “som da linguagem” perante acontecimentos que destituem a própria palavra – daí uma espécie de corrosão, de permanência à beira de um mutismo de onde não parece ser possível sair; e, aqui, não há destroços, há apenas detalhes, fragmentos que transportam em si todo o disparate do século.» [João Oliveira Duarte, Nascer do Sol, 12/12/2023: https://sol.sapo.pt/2023/12/12/goncalo-m-tavares-o-canto-tragico-do-seculo/?fbclid=IwAR1tVq_ZYziSSYRNgmR5dw5HBhUSSmlGo_6RvuD9vzycVTuCC47L0LfyyqM]
As Botas de Mussolini e outras obras de Gonçalo M. Tavares estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/goncalo-m-tavares/
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