2.10.23

Sobre Poemas, de Bertolt Brecht

 



«É pouca sorte que tantos de nós tenham chegado a Brecht pelo lado errado: primeiro estudámos a teoria, depois as peças, e só chegámos aos poemas como subproduto do teatro, em vez de vermos que os poemas levaram às peças e atravessam as peças, das quais nasceram as teorias. […]

Durante uns 15 anos, Brecht escreve versos domésticos, bucólicos, alegóricos, mas sobretudo sombrios, pois viviam-se “tempos maus para o lirismo”. Acerca dessa tensão, confessou: “Dentro de mim lutam / O entusiasmo pela macieira em flor / E o horror do discursos do pintor de portas [Hitler]. / Mas só o segundo / Me força a sentar-me à mesa.” Embora tivesse dúvidas, inclusive políticas, a sua poesia nessa fase necessitava de certezas, de verdades concretas numa linguagem inteligível. É uma poesia dos desastres da guerra, da notícias de jornal, das “opiniões baixas” dos “de baixo”, de camaradagens e despedidas (o suicídio do seu amigo Walter Benjamin). Os poemas mais tocantes são os que dedicou à mulher, a actriz Helene Weigel, que se apaga, se transforma, se entrega, avançando corajosa em cena: “E agora entra à tua maneira leve/ No velho palco da cidade em destroços / Cheia de paciência e também implacável/ Mostrando o exacto. // A loucura com sabedoria / O ódio com amabilidade / Na casa caída / A fórmula da construção.”» [Pedro Mexia, E, Expresso, 29/9/2023]


Poemas, de Bertolt Brecht, versão portuguesa de Paulo Quintela, organização da edição e posfácio de António Sousa Ribeiro, está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/poemas-pre-venda/

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