Cormac McCarthy elevou com romances como Meridiano de Sangue e A Estrada a literatura norte-americana ao nível de Faulkner e Melville.
Morreu ontem na sua casa em Santa Fe, aos 89 anos, continuando a escrever até ao fim, tendo publicado em 2022 o díptico O Passageiro e Stella Maris.
Nascido em Rhode Island em Julho de 1933, numa família católica irlandesa, frequentou a Universidade do Tennessee em estudos de Física e Engenharia, que interrompeu aos 20 anos para ingressar na Força Aérea. Regressou à faculdade já convertido em leitor voraz, para frequentar Artes.
O seu primeiro reconhecimento surgiu com Belos Cavalos (1992), que recebeu o National Book Award e o National Book Critics Circle Award. A Trilogia da Fronteira, que iniciou a sua longa dissecação da sociedade norte-americana, prosseguiu com A Travessia (1994) e Cidades da Planície, surgido alguns anos depois.
O seu auge narrativo deu-se com Meridiano de Sangue, em 1985, e a criação do juiz Holden, considerado pelo crítico Harold Bloom tão importante e apocalíptico como Moby Dick, de Melville, ou Na Minha Morte, de Faulkner, ou seja, uma tragédia «ao mesmo tempo americana e universal».
Obras posteriores igualmente editadas pela Relógio D’Água, como Este País não É para Velhos, passado ao cinema pelos irmãos Coen, ou o pós-apocalíptico A Estrada, filmado por John Hillcoat, consolidaram a sua importância como um dos mais notáveis narradores norte-americanos dos últimos 50 anos, a par de Don DeLillo, Pynchon e Philip Roth.
Ao acercar-se dos 90 anos, despediu-se da escrita com O Passageiro e Stella Maris, completando a sua descrição da América, em que soube como poucos escritores captar a fala e as acções das mais diversas personagens.
O seu tradutor para português dos 12 romances e de um argumento foi Paulo Faria. Conheceu pessoalmente Cormac McCarthy, viajando até Santa Fe e convivendo também com o seu irmão e amigos para melhor entender o seu universo ficcional.
Nos últimos anos Cormac McCarthy trabalhou no Santa Fe Institute, um centro de investigação multidisciplinar, onde publicou um ensaio explorando o inconsciente e a origem da linguagem.
Cormac McCarthy será certamente lembrado pelos seus 12 romances.
Depois do que sucedeu com Javier Marías, a Academia Sueca perdeu uma nova oportunidade de se prestigiar concedendo o Nobel da Literatura ao criador do juiz Holden, que nunca dormia e provavelmente escaparia para sempre à morte e que de madrugada lançava fogo às pedras.
Francisco Vale
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