«O retrato de uma mulher morta na parede de casa de uma família da burguesia decadente. Chegamos a vislumbrá-la brevemente. “Sentada com um chapéu de plumas e um longo rosto cansado e assustado”. Morreu jovem, depois do nascimento do seu quarto filho, uma rapariga chamada Anna. É pelo silêncio dessa fotografia que entramos no terceiro romance de Natalia Ginzburg (nascida Levi, em 1916, na Sicília), nome felizmente ressurgido e do qual nos vão chegando livros, em primeira edição portuguesa ou em reedição depois de muitos anos. Como este Todos os Nossos Ontens, exemplo de uma escrita misteriosamente íntima, mesmo quando fala de guerra, de revolução, de combate político. […]
Como salienta Sally Rooney na introdução à versão portuguesa, estamos num romance de grandes personagens que servem a Natalia Ginzburg para dar voz aos seus temas recorrentes: a dualidade bem/mal, a luta política, a clandestinidade, a contradição entre o Sul e o Norte de um país onde a burguesia e a miséria coabitam, a complexidade das relações familiares, a solidão, o modo como as pessoas se perdem umas das outras, e o silêncio. Sempre o silêncio que a escritora constrói à volta de um domínio prodigioso de palavra e ritmo.» [Isabel Lucas, ípsilon, Público, 24/3/2023: https://www.publico.pt/2023/03/24/culturaipsilon/critica/natalia-ginzburg-ouve-silencio-insecto-2043275]
Todos os Nossos Ontens (trad. Anna Alba Caruso) e outras obras de Natalia Ginzburg estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/natalia-ginzburg/
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