17.3.23

Sobre A Estrela da Manhã, de Karl Ove Knausgård

 


«Há uma premissa essencial na ação do romance, que decorre em dois dias sucessivos: o facto de as pessoas se aperceberem de elementos de estranheza a infiltrarem-se no sue quotidiano, mas não conseguirem explicá-los, ou sequer racionalizá-los. Como sugere a dada altura uma figura secundaríssima: “Tenta imaginar que não existem leis da natureza. Que não há padrões eternos nem barreiras para o que pode ou não acontecer.” Será essa a consequência do novo astro no céu? Uma súbita dissolução das fronteiras, nomeadamente as que separam o humano do selvagem, ou a via e a morte? Estaremos tão-só diante de uma supernova distante (por muito que pareça próxima), não mais do que um fenómeno astronómico que incendeia a imaginação humana?

Os indícios apontam quase todos na mesma direção. Há quem tenha alucinações assustadoras, quem julgue encontrar Deus num Burger King, quem assista a uma espécie de ressurreição, quem pressinta o mal a invadir o mundo, quem mergulhe na escuridão da morte e a relate como se fosse um sonho. Há presenças ominosas: uma ave com escamas, um ser que parece vir das profundas do inferno, três elementos de uma banda de death metal assassinados num aparente ritual satânico. É como se algo escondido por baixo da superfície das coisas estivesse em vias de emergir. Egil, o autor frustrado de documentários que se converteu por causa de Kierkegaard, entende que “tudo são sinais”. Para ele, a nova estrela é um símbolo poderoso, o prenúncio de ago que está para chegar. E lembra que, na Bíblia, a “estrela da manhã” tanto é associada a Jesus Cristo como ao Diabo.» [José Mário Silva, E, Expresso, 17/3/2023]


A Estrela da Manhã (tradução de João Reis) e outras obras de Karl Ove Knausgård estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/karl-ove-knausgard/

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