«Anna não é apenas uma mulher, não é apenas um esplêndido espécime de mulher, Anna é uma mulher de uma natureza moral completa, densa e importante: tudo no seu carácter é significativo e notável, e isto também se aplica ao seu amor. Ela não se limita, como outra personagem do livro, a princesa Betsi, a ter um caso escondido. A sua natureza, verdadeira e apaixonada, torna impossível o disfarce e o segredo. Ela não é Emma Bovary, uma provinciana sonhadora, uma ávida meretriz que se arrasta pelos lares desfeitos e pelas camas dos amantes.»
«E chegamos agora à verdadeira questão moral que Tolstoi queria fazer passar: o Amor não pode ser unicamente carnal porque deste modo é egoísta, e ser egoísta é destruir em vez de criar. O Amor é, então, pecaminoso. E de modo a tornar este assunto tão artisticamente distinto quanto possível, Tolstoi, numa vaga de extraordinária imaginação, descreve, em nítido contraste, dois amores: o amor carnal do casal Anna-Vronski (lutando por entre as suas emoções sensuais, mas fiéis e espiritualmente puras) e, do outro lado, o autêntico Amor cristão, como Tolstoi o quis chamar, do casal Kiti-Lévin, com os bens de natureza sensual ainda presentes, mas equilibrados, e em harmonia numa atmosfera de responsabilidade, carinho, verdade e alegria familiar.» [Do Posfácio de Vladimir Nabokov]
Anna Karénina (trad. António Pescada) e outras obras de Lev Tolstoi estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/lev-tolstoi/
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