17.9.22

De Ethan Frome, de Edith Wahrton

 



«A aldeia jazia sob uma camada de dois pés de neve, com montões mais altos nas esquinas ventosas. No céu de chumbo, os vértices da Ursa brilhavam como pingentes de sincelo, e Órion dardejava o seu frio lume. A lua escondera-se, mas a noite estava tão transparente que as fachadas brancas entre ulmeiros pareciam pardas em contraste com a neve, que os maciços de arbustos manchavam de negro, e sobre cuja ondulação infinita as janelas da cave da igreja projectavam grandes focos de luz amarela.

O jovem Ethan Frome percorreu rapidamente a rua deserta, passando pelo banco, pela nova loja de Michael Eady, toda em tijolo, e pela casa do advogado Varnum, com o seu par de espruces da Noruega a ladear o portão. Diante do portão dos Varnums, onde a estrada começava a descer para o vale de Corbury, a igreja erguia o seu esguio e branco campanário e o seu peristilo estreito. No momento em que o jovem Ethan para lá se dirigiu, as janelas do andar de cima desenhavam uma galeria negra ao longo da parede lateral do edifício, mas das frestas do piso inferior, do lado onde o terreno descia quase a pique até à estrada de Corbury, jorravam longos veios de luz, iluminando um grande número de trilhos recentes no carreiro que conduzia à porta da cave, e dando a ver, no telheiro adjacente à igreja, uma fila de trenós com os seus cavalos cobertos por mantas grossas.» [pp. 23-24]


Ethan Frome (trad. Ana Luísa Faria) e outras obras de Edith Wharton estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/edith-wharton/

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