11.2.22

Sobre Segunda Casa, de Rachel Cusk

 



«“Segunda Casa” (2020), o primeiro livro publicado pela escritora depois da trilogia, parece querer desbravar um caminho novo. Para acentuar o contraste, surge-nos desde logo como uma espécie de reverso das deambulações fantasmáticas de Faye. Se esta se ocultava nos meandros da prosa, calando a voz própria para ceder lugar às vozes dos outros, a narradora deste romance, M, pelo contrário, está sempre em primeiro plano, ocupando praticamente todo o espaço da narrativa. Tudo o que acontece é analisado e interpretado no contexto da sua mundividência, dos seus traumas e memórias, dos anseios de liberdade e das suas ilusões sobre o papel que os outros podem desempenhar na sua existência. […]

Vagamente inspirado num livro de memórias de Mabel Lodge Luhan (“Lorenzo in Taos”, de 1932), em que aquela patrona das artes narra a estada do escritor D. H. Lawrence na sua casa do Novo México, o romance é tanto mais interessante quanto menos se prende às contingências do real. Num momento de lucidez, M admite: “Cansamo-nos da realidade e depois descobrimos que ela já estava cansada de nós.”» [José Mário Silva, E, Expresso, 4/2/2022]


«Segunda Casa» (trad. Sara Serras Pereira) e «Kudos» (trad. Ana Falcão Bastos) de Rachel Cusk estão disponíveis em: https://relogiodagua.pt/autor/rachel-cusk/

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