«No conto inicial de “Rodeado de Ilha”, “A Economia das Paixões”, JMFJ assume o “errático balanceio de narrador” (p. 15), mas isso apenas quer dizer um narrador e, por conseguinte, narrações, de uma elegante flexibilidade — “Agora sou levado a deslocar aqueles que atrás ficaram e a contar a sua história” (p. 194). De regresso ao prodigioso “Hermengarda” — uma das mais brilhantes ficções de JMFJ, e talvez uma das suas personagens de maior força e conseguimento —, poderemos ser tentados a pensar em Agustina, perante a força indómita desta “mulher que já não tem paciência” (p. 273), e de outras figuras femininas que com ela “contracenam”, como Silvana; ainda antes disso, porém, devíamos atentar no início do conto. Este surge-nos como a rubrica ou as dramatis personae de uma peça teatral, género não praticado por JMFJ, que, no entanto, várias vezes se refere com apreço a “Benilde ou a Virgem Mãe”, de José Régio. Aqui, não teremos, em sentido estrito, um drama, ainda que se possa entrever, nestas falas, e na forma como estas surgem, um certo eco do texto dramático. Hermengarda, protagonista do conto que tem o seu nome, já se disse, pode evocar em nós Agustina. O que talvez não seja impróprio, se pensarmos (e é apenas um exemplo) no seguinte passo: “Sabes que ele [Cristo] deu cabo da fortuna da mãe, que era uma senhora muito rica da Judeia?” (p. 300).»[Hugo Pinto Santos, ípsilon, Público, 21/2/2022: https://www.publico.pt/2022/01/21/culturaipsilon/critica/joao-miguel-fernandes-jorge-empenhamento-instantes-1992231]
Rodeado De Ilha e outras obras de João Miguel Fernandes Jorge estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/joao-miguel-fernandes-jorge/
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