21.1.22

Em entrevista ao ípsilon, Rachel Cusk fala com Isabel Lucas a propósito do seu mais recente romance, Segunda Casa

 




«Rachel Cusk — Neste livro, procurei encontrar uma forma que permitisse explorar as múltiplas maneiras de se ser mulher, mas que fosse esbatida ou embaciada pelo modo como as instituições funcionam e o que continuam a esperar das mulheres. De como o modo de gestão comunitária age de forma estranha, e não particularmente boa, à partilha dessas experiências ou ao modo como são partilhadas. As pessoas — incluindo as mulheres — não são muito empáticas umas com as outras nesse aspecto. Mas parece-me que a “vida pós-familiar das mulheres” — na falta de melhor expressão — não é comunitária. Cada uma é deixada a encontrar a sua saída, a saber como se situar nessa paisagem feminina que continua. Ela tem de a descobrir. Queria explorar ainda a ideia de uma ausência de voz feminina. E um sentimento mais evidente: a ausência de uma narrativa dessa fase da vida. Foi então que encontrei um velho livro quando estava a pesquisar outra coisa.

Isabel Lucas — Refere-se às memórias de Mabel Dodge Luhan, “Lorenzo in Taos”.

Rachel Cusk — Sim, sim. Mabel Luhan fala da sua relação com um artista, D. H: Lawrence, cuja vida e obra conheço bem. Mas de repente fiquei alerta para o modo como aquela voz se posicionava, ao mesmo tempo livre e obsoleta, livre e insignificante. Era esse o som que eu queria, e o facto de ela existir num livro que era como um edifício abandonado veio resolver o meu problema e muitos problemas artísticos sobre a legitimação, a tomada de espaço, todas essas coisas de que quero falar apesar de ser difícil falar delas sem soar obsoleta [ri].» [ípsilon, Público, 21/2/2022: https://www.publico.pt/2022/01/21/culturaipsilon/noticia/mulher-consciente-condicao-independencia-1992275]


«Segunda Casa» (trad. Sara Serras Pereira) e «Kudos» (trad. Ana Falcão Bastos) de Rachel Cusk estão disponíveis em: https://relogiodagua.pt/autor/rachel-cusk/

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