21.7.21

Sobre Salammbô, de Gustave Flaubert

 



Salammbô foi tão inovador na obra de Flaubert e na literatura do seu tempo como cerca de um século mais tarde o seria A Sangue-Frio, de Truman Capote.

Flaubert terminara Madame Bovary em 1856. No ano seguinte, o romance desencadeou um processo por «atentado aos bons costumes e à religião» e teve por isso um sucesso de vendas que não agradou ao autor. Flaubert chegou mesmo a dizer que todo aquele ruído era estranho à arte e que «la Bovary m’embête».

Terá sido como reacção a um tal acontecimento que Flaubert se lançou a escrever um «romance cartaginês», com um novo método de escrita que passava pela acumulação prévia de «livros sobre livros, notas sobre notas» para «ressuscitar toda uma civilização sobre a qual nada possuímos».

Em 1858, depois de um breve episódio de vida mundana em que conviveu com um pequeno clã de escritores (Goncourt, Sainte-Beuve, Baudelaire, Gautier, Renan e Feydeau) e em que esboçou o primeiro capítulo de Salammbô, Flaubert decidiu viajar para a Argélia e Cartago.

Após dois meses de viagens em incómodas caravanas de mulas e de inúmeras notas, Flaubert regressou e alterou de modo radical o primeiro capítulo. «Era absurdo! Impossível, falso!», escreveu em 20 de Junho a Feydeau. Até final do ano completou três capítulos, começando com o famoso festim dos mercenários, fragmento inultrapassável na descrição da brutalidade e do desejo. Em poucas páginas, Flaubert constrói um monstruoso fogo-de-artifício da voracidade humana, não só pelas cenas e paixões que descreve, mas através da própria matéria das palavras.

Em 1859, são redigidos os capítulos quarto e sexto de Salammbô e no final do ano entrou finalmente no «templo de Moloch».

Em Julho do ano seguinte, Flaubert escreveu a Amélie Bosquet: «estou actualmente esmagado de fadiga, carrego aos ombros dois exércitos completos: trinta mil homens de um lado, onze mil do outro, sem contar com os elefantes com os seus condutores, os serventes e as bagagens».

Ao longo do ano seguinte, encerrado em Croisset, Flaubert vai elaborando os restantes capítulos, inscrevendo a paixão de Mâtho e Salammbô num fundo de episódios guerreiros e religiosos.

«Terminei finalmente, no domingo passado, às sete da manhã, o meu romance Salammbô», diz ele a Mlle. Leroyer de Chantepie, a 24 de Abril de 1862.

O romance exigira-lhe cinco anos de trabalho. Posto à venda a 24 de Novembro desse ano, o livro vende cerca de mil exemplares por dia e lança a moda cartaginesa.

Flaubert responde às críticas de Sainte-Beuve numa carta reproduzida nesta edição.

No ano seguinte, um elogioso artigo de George Sand a Salammbô marca o início da amizade e da correspondência entre os dois escritores.


Salammbô e outras obras de Gustave Flaubert estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/gustave-flaubert/


Sem comentários:

Enviar um comentário