«Poeta, ficcionista, crítico, tradutor, amigo de Borges e Moravia, actor de Pasolini, o argentino Juan Rodolfo Wilcock (1919-1978) era uma figura com o seu quê de agustiniano: um snobe culto, asceta e mundano, esteta e belicoso. Conheceu Agustina Bessa-Luís em 1959, num congresso político-cultural perto de Aix-en-Provence, sobre o qual ela escreveria um livro fascinante e venenoso, “Embaixada de Calígula” (1961). E deu-se início a uma correspondência, em castelhano, que duraria até 1965 e a que Ernesto Montequin chama, num completíssimo prefácio, um “jogo de sedução intelectual”. As cartas referem-se constantemente ao encontro de 59 e a um sempre adiado reencontro português. Agustina e Wilcock vivem unidos por essas datas míticas, pela curiosidade quezilenta dela (“toda a minha mais alta verdade se pode definir por antipatia e inteligência”) e pelo cepticismo dele, que descamba em subjugação (“tenho ciúmes de todas as pessoas que lêem o que escreve, preferia que fosse completamente ignorada, e muda como uma deusa”). Ele pede que ela não o invente como se fosse uma personagem, que não seja arisca, mas ela está numa das suas fases mais imaginativas e exasperadas (“O Susto”, “Ternos Guerreiros”, “O Manto”).»
[Pedro Mexia, «Ternos guerreiros», «E», 2021/07/03]
«Correspondência (1959-1965)» e outras obras de Agustina Bessa-Luís estão disponíveis em: https://relogiodagua.pt/autor/agustina-bessa-luis/
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