«Esta publicação de Cesário Verde é assim constituída pelas páginas cobertas de decassílabos e de alexandrinos, líricos e mordazes de uma peculiar energia, e pela reduzida prosa epistolar.
E se ela é tributária de quantas a precederam, como se reconhece por ela adentro, do mesmo modo não prescinde da lição de Fialho de Almeida (“o maior poeta da prosa portuguesa”), “mestre incontestado do impressionismo”, rendido, ainda em vida de ambos, à novidade do canto de Cesário Verde (“o poeta mais dotado com qualidades da prosa”) (…).
Do mesmo modo esta edição também não prescinde da lição de Fernando Pessoa que, dos três mestres de língua portuguesa que elegeu, foi ao cantor de “O Sentimento dum Ocidental” — como ele transeunte das ruas de Lisboa e espectador desencantado do fim do império — que instituiu mestre do mestre das suas fantasmagorias autorais, fez mentor da descoberta sensacionista que instruiu a sua geração, a quem louvou em prosa e em verso e estudou, criticamente, em vários momentos.
Os dois escritores propunham-se estudar Cesário com demora através de uma obra que, por longos anos, foi presente nas letras portuguesas com apenas vinte e dois poemas, tendo o acaso frustrado tais propósitos. Talvez tenha sido ainda o acaso, mas agora de sinal positivo, a providenciar a reunião destes três enormes vultos de nascença oitocentista onde, em cadeia, ainda puderam tocar-se numa espécie de “transferência de energia dos antigos aos discípulos” (como Pessoa alegou em outras circunstâncias).» [Da Introdução]
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