30.7.21

Na morte de Pedro Tamen

 




Morreu ontem, aos 86 anos, Pedro Tamen, poeta e tradutor. Formou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, onde participou no jornal Encontro e no cineclube Centro Cultural de Cinema.

A sua estreia foi o Poema para Todos os Dias, saído em 1956. Entre as suas obras, destacam-se Horácio e Coriáceo (Prémio D. Dinis) e Analogia e Dedos (Prémio de Poesia Luís Miguel Nava) e Rua de Nenhures.

Pedro Tamen participou com Alçada Baptista na fundação da Moraes Editores, que, a partir do Largo do Picadeiro, animou a vida editorial e cultural portuguesa desde o final dos anos 50 até meados dos anos 70 do século passado. Entre as obras publicadas contam-se os primeiros livros de José Saramago, Cardoso Pires, Maria Velho da Costa, Nuno Bragança ou Augusto Abelaira e antologias e obras individuais de alguns dos nossos melhores poetas, incluindo o próprio Pedro Tamen, Cristovam Pavia, José Gomes Ferreira ou Ruy Belo.

Foi também um dos nossos principais tradutores do francês e do castelhano, tendo editado na Relógio D’Água sete volumes de Em Busca do Tempo Perdido, de Proust, Salammbô e Contos, de Flaubert, Pierrette seguido de O Padre de Tours e Sarrasine, de Balzac, Morte aos Feios e Elas não Percebem Nada, de Boris Vian, e A Vontade de  Saber, de Michel Foucault. Do espanhol publicou na Relógio D’Água Um Sonho Realizado e Outros Contos, de Juan Carlos Onetti.

Foi administrador da Fundação Calouste Gulbenkian durante 25 anos, ao mesmo tempo que participou no PEN Club Português e na Associação Portuguesa de Escritores.

Reformou-se em 2000 para viver na Arrábida, onde lia, escrevia, ouvia música, cuidava das plantas e recebia os amigos com o entusiasmo, a amabilidade e a ironia que faziam parte do seu modo de ser. Ausentava-se de sua casa para participar em colóquios, às vezes internacionais, sobre poesia ou tradução, embora não acreditasse em teorias, pois a tradução era para ele um confronto singular com o texto de um autor.


Francisco Vale


Sem comentários:

Enviar um comentário