29.7.21

De Auto-Retrato num Espelho Convexo, de John Ashbery

 



«“DURANTE QUANTO TEMPO MAIS PODEREI HABITAR O DIVINO SEPULCRO…”


Durante quanto tempo mais poderei habitar o divino sepulcro

Da vida, meu grande amor? Mergulham ao fundo os golfinhos

Para buscar a luz? Ou é rocha

O que se procura? Inexoravelmente? Ah. E se algum dia


Homens com pás laranja vierem abrir a rocha

Que me encerra, que dizer da luz que entrará então?

Que dizer do cheiro da luz?

Que dizer do musgo?


Em tempos peregrinos ele feriu-me

Desde então estou aqui deitado

O meu leito de luz é uma fornalha sufocando-me

De inferno (às vezes ouço água salgada a pingar).


Falo a sério — porque sou um dos poucos

Que sustiveram a respiração debaixo da casa. […]» [p. 19]


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