«Chegamos agora a uma das melhores e mais famosas traduções inglesas. Falo, evidentemente, do Rubáiyát de Omar Khayyám por FitzGerald. A primeira estrofe reza assim:
Awake! For morning in the bowl of night
Has flung the stone that puts the stars to flight;
And, lo! The hunter of the East has caught
The Sultan’s turret in a noose of light.
[Despertai! Pois a manhã na taça da noite
Lançou a pedra que põe em fuga as estrelas;
E ala! O caçador de Oriente caçou
A torre do sultão numa poalha de luz.]
Como sabemos, o livro foi descoberto numa livraria por Swinburne e Rossetti. Sentiram‑se esmagados pela sua beleza. Não sabiam nada de Edward FitzGerald, um homem de letras assaz desconhecido. Tinha ensaiado traduzir Calderón e A Conferência dos Pássaros de Farid al‑Din Attar; não eram livros muito bons. E então chegou este famoso livro, hoje um clássico.
Rossetti e Swinburne sentiram a beleza da tradução, contudo não sabemos se teriam sentido essa beleza caso FitzGerald apresentasse o Rubáiyát como um original (em parte era um original) e não como uma tradução. Pensariam eles que FitzGerald podia permitir‑se dizer «Despertai! Pois a manhã na taça da noite / Lançou a pedra que põe em fuga as estrelas»?» [pp. 53-54]
Este Ofício de Poeta, de Jorge Luis Borges (trad. Telma Costa), está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/este-oficio-de-poeta/
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