17.2.21

Sobre Rimas, de Gustavo Adolfo Bécquer

 



«Introdução Sinfónica


Pelos tenebrosos recantos do meu cérebro, acocorados e nus, dormem os extravagantes filhos da minha fantasia, esperando em silêncio que a arte os vista da palavra para se poder apresentar decentes na cena do mundo.

Fecunda, como o leito de amor da miséria, e parecida com esses pais que engendram mais filhos que os que podem alimentar, a minha musa concebe e pare no misterioso santuário da cabeça, povoando-a de criações inúmeras, às quais nem a minha actividade nem todos os anos que me restam de vida seriam suficientes para dar forma.

E aqui dentro, nus e disformes, revoltos e baralhados em indescritível confusão, sinto-os às vezes agitar-se e viver com uma vida obscura e estranha, semelhante à dessas miríades de germes que fervem e estremecem numa eterna incubação dentro das entranhas da terra, sem encontrar forças bastantes para vir à superfície e converter-se, mediante o beijo do sol, em flores e frutos.» [p. 33]


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