Giovanni Boccaccio escreveu Decameron na sequência do surto de peste em Florença em 1348, que reduziu a população da cidade a cerca de 40 por cento. A obra acompanha dez jovens florentinos que se refugiam no campo, onde se entretêm a contar histórias durante os dez dias que ali irão permanecer.
«Já tinha chegado o ano de 1348 da fecunda encarnação do filho de Deus, quando a cidade de Florença, nobre entre as mais famosas da Itália, foi vítima da mortal epidemia. Fosse a peste obra de influências astrais ou a consequência das nossas iniquidades e que Deus, na sua justa cólera, a tivesse precipitado sobre os homens, como punição dos seus crimes, a verdade é que ela se havia declarado alguns anos antes nos países do Oriente, onde arrastara para a perda inúmeras vidas humanas. Depois, prosseguindo a sua marcha sem se deter, propagou-se, para nosso mal, na direcção do Ocidente. Todas as medidas sanitárias foram sem efeito. Por mais que os guardas especialmente encarregados disso limpassem a cidade dos montes de imundície, por mais que se proibisse a entrada a todos os doentes e se multiplicassem as prescrições de higiene, por mais que se recorresse às súplicas e às orações que se usam nas procissões e àquelas, de outro género, de que os fiéis se desobrigam para com Deus, nada deu resultado. Logo nos primeiros dias primaveris do ano a que me referi, o terrível flagelo começou, de maneira surpreendente, a manifestar as suas dolorosas devastações.» [p. 23, vol. I]
Os dois volumes de Decameron (trad. Urbano Tavares Rodrigues) estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/produto/decameron-2-vols/
Sem comentários:
Enviar um comentário