6.7.20

Sobre «A Pandemia Que Abalou o Mundo», de Slavoj Žižek






«O sentido desta radicalidade política não é o de quem adopta um extremo ideológico já plenamente codificado. É o de quem procura avaliar a sensibilidade de um tempo histórico em momentos dramáticos. No caso da pandemia de coronavírus, as conclusões de Žižek não são facilmente descartáveis: 1) “sabemos que os alertas (…) sobre pandemias eram inteiramente justificados”, e 2) “já não estamos dispostos a aceitar a peste como nosso destino” (p. 89). Não esqueçamos que, numa caracterização que muitos preferiram desconsiderar, para Žižek a crise é tripla, ou seja, não só médica e económica, mas também psicológica. A sua recusa das teorias de “construtivismo social”, do tipo das de Foucault e Agamben, radica na valorização da dimensão psicopolítica que não estamos habituados a conotar com a esquerda (sempre pronta a desvalorizar  meros “estados de alma”).
Um pensamento para a sobrevivência da humanidade contém sempre um elemento de tragédia. E Žižek pode ser descrito como um comunista trágico. Talvez por isso uma das passagens mais memoráveis deste conjunto de reflexões seja (no anexo “Encontro em Samarra: um novo uso para velhas piadas”) uma nota bastante crua sobre pânico e poder: “Os governantes estão em pânico porque não só sabem que não têm a situação controlada, como que nós, os seus súbditos, temos perfeita noção disso. A impotência do poder ficou à vista de todos.”»

[Gustavo Rubim, Ípsilon, Público, 03/07/2020: https://www.publico.pt/2020/07/03/culturaipsilon/critica/unico-marxista-aldeia-1922453]

A Pandemia Que Abalou o Mundo (trad. João Moita) e outras obras de Slavoj Žižek estão disponíveis em: https://relogiodagua.pt/autor/slavoj-zizek/


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