9.6.20

Sobre De Olhos Abertos, de Marguerite Yourcenar




«Em Petite Plaisance, quando empurra a porta, por baixo da varanda de onde pendem espigas de milho (símbolo local de prosperidade, oferenda a um qualquer deus desconhecido, deixado pelos índios, quem sabe?), o visitante tem o sentimento de penetrar com naturalidade numa terra onde o ar é diferente. O olhar de Marguerite Yourcenar, ao mesmo tempo longínquo e cortês, com algo de irónico, pousa sobre ele, avalia-o, julga-o. E começa então a falar, com a segurança daquele que acredita…
Serena até ao desprendimento ― e, no entanto, terna; basta vê-la acariciar um cão ou um seixo na praia ―, diríamos que pertence a um outro reino, onde as palavras possuíssem o seu sentido próprio, os humanos a sua razão, com o universo das leis reconhecido por todos, a sabedoria um lugar e a inteligência um brilho sem sombras. Ela olha o mundo e o homem de frente, com um amor abstracto que pode causar medo, como o dos santos. Mas há nela fogos que se adivinham. Apesar do seu sorriso de Minerva, contido e mesmo um pouco distante, é uma visionária que nos contempla, com aquele olhar azul onde se reencontra, intacta sob a pálpebra carregada, a inocência gelada da criança perante um mundo que se afunda.» [Do Prefácio de Matthieu Galey]

Este livro reúne diversas entrevistas que Marguerite Yourcenar (1903-1987) concedeu a Matthieu Galey. Ao longo dessas conversas, Yourcenar descreve o itinerário da sua existência nómada, desde a infância flamenga antes da Guerra de 1914, junto de um pai excepcional, até à deslocação para a ilha de Montes Desertos, na costa este dos Estados Unidos.
Mesmo ao abordar a sua vida quotidiana, Yourcenar revela um invulgar dom para situar os seres, os acontecimentos e as circunstâncias numa perspectiva mais ampla, à escala dos mais importantes valores humanos.
Sem reservas, com uma simplicidade e sabedoria conquistada ao longo dos anos, os «olhos abertos» de Yourcenar demoram-se nos mais variados aspectos do mundo antigo e contemporâneo.
No conjunto, este é o testemunho que Yourcenar nos deixou sobre os seus sentimentos, acções e pensamentos.

De Olhos Abertos (tradução de Renata Correia Botelho) está disponível em https://relogiodagua.pt/produto/de-olhos-abertos/

Sem comentários:

Enviar um comentário