«De Baretti e William Beckford a Simone de Beauvoir e García Márquez, a socióloga recolheu as impressões anotadas por aristocratas, cientistas, comerciantes e escritores que nos visitaram ao longo destes mais de 200 anos. A essa recolha juntou biografias dos autores destas palavras, que ajudam a compreender o quadro mental de cada um e os respetivos preconceitos. “Gostei muito de escrever este livro”, diz-nos Maria Filomena Mónica. Mesmo se o retrato geral do país que resulta destes testemunhos deixe, as mais das vezes, um travo amargo. […]
José Cabrita Saraiva — Acha que as opiniões de figuras como Baretti, Carrère, Beckford, Byron, Lichnowsky, Porchester, etc., são justas ou foram distorcidas pelo preconceito? Estou a pensar, por exemplo, nesta de J. B. F. Carrère, antigo conselheiro médico do Rei Luís XVI de França, em que aconselha o português a viajar, para concluir: “Envergonhar-te-ás de ter nascido português […] e concordarás então que o teu país é o mais atrasado, o mais ignorante, o menos civilizado, o mais selvagem e bárbaro de todos os países da Europa”.
Maria Filomena Mónica — Foram muitas vezes deturpadas. Nomeadamente, no caso dos ingleses. Não só por a Inglaterra ser, no séc. XIX, o país mais desenvolvido da Europa, mas por virem da boca de quem perfilhava uma religião diferente, a anglicana. Este último fator foi determinante, pois contribuiu para atribuir os defeitos portugueses à religião católica. Portugal tinha múltiplos fatores — a situação geográfica, a ausência de carvão, solos fracos — que explicam o seu atraso. A Igreja Católica poderá ter contribuído para o atraso, mas “a lenda negra” é um preconceito dos países do norte quando olham para o sul.» [Sol, 10/4/2020]
Esta e outras obras de Maria Filomena Mónica estão disponíveis em https://relogiodagua.pt/autor/maria-filomena-monica/
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