«Editado pela Relógio d’Água, As Confissões da Carne é o último volume de um projeto que Foucault perseguiu nos últimos anos da sua vida. Debruçando-se sobre os primeiros séculos do cristianismo, o filósofo francês interroga as diversas formas através das quais o cristianismo primitivo construiu a sexualidade que ainda hoje é a nossa.
Me too, casas de banho, apelos à natureza e à naturalidade, referências à biologia, como se esta contivesse a verdade última sobre o sexo, luta por quotas quanto ao sexo feminino, elogios de cada vez que um político se assume como homossexual - essa categoria algures entre a medicina e a política que, diz-nos o historiador Douglas Crimp, recentemente falecido, foi objeto de grande disputa durante os anos 90. É esta, mais coisa menos coisa, a forma como atualmente a sexualidade se coloca nas nossas sociedades. Longe vão os tempos, de facto, em que o sexo era considerado como um momento político e revolucionário, em que sobre ele recaía a possibilidade de transformação do mundo, em que a libertação da sexualidade nas ruas era o pesadelo dos conservadores - ainda hoje o é, em certa medida, pelo menos no imaginário perverso destes, sem que ninguém, infelizmente, se reclame dessa perversidade. Em todo o caso, entre ideários conservadores como o Me too (a revolta das donas de casa, que querem os maridos ao lado delas, não interrogando a instituição família), institucionalizações de direitos, como se um homossexual na liderança de um banco desse um colorido especial ao capitalismo, ou argumentos saídos das catacumbas das redes sociais que se limitam a repetir até à náusea a verdade da biologia, sobra pouco espaço para esse monumento recentemente editado: As Confissões da Carne, do filósofo francês Michel Foucault.» [João Oliveira Duarte, i, 29/8/2019. Texto completo em https://ionline.sapo.pt/artigo/669477/michel-foucault-a-verdade-do-sexo?seccao=Mais ]
Mais informação sobre este e outros livros de Michel Foucault em https://relogiodagua.pt/autor/michel-foucault/
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