«Porque é que um quadro pode suscitar em alguém uma reacção tão violenta a ponto de o golpear no museu onde está exposto? Ou, de outro modo, porque é que uma cor tem o poder de nos deixar mais alegres, tristes ou irascíveis? O que é que uma cor pode dizer, por exemplo, sobre quem a usa? “Your scarf, it was apricot”, cantava Carly Simon em You’re So Vain, citada por Alexandre Andrade (Lisboa, 1971) na epígrafe de Todos Nós Temos Medo do Vermelho, Amarelo e Azul, volume de onze contos sobre as reacções humanas à cor. “É algo a que não escapamos e que suscita em nós uma resposta mais ou menos intensa, dependendo da cor, mas que é muito visceral e muito imediata”, diz o escritor sobre o seu último livro e meses depois de ter vencido o PEN de Narrativa com Descrição Guerreira e Amorosa da Cidade de Lisboa (Relógio D’Água, 2017). […]
Alexandre Andrade tem andado sempre por estes territórios nos dois romances, nas novelas, nos contos, em géneros que desafiam os próprios limites de género, nem sempre fáceis de nomear, num exercício de coerência acerca do que se vai entendendo ser literatura ou ficção à luz de influências como Proust, Von Kleist, Barthelme ou Queneau. Há traços comuns no percurso, entre eles o comentário irónico. “São personagens muito conscientes do que as rodeia. Não procuro a ironia de forma deliberada, mas muitas personagens acabam por usar a ironia para se defender.É algo que surge naturalmente”, justifica o escritor, que não esconde o gosto por ler e escrever diálogos e neles expor essa ironia. São também personagens bastante enraizadas, com uma relação forte com os lugares por onde andam, uma geografia precisa que contrasta com alguma perdição anímica ou emocional.» [Isabel Lucas, entrevista a Alexandre Andrade, ípsilon, 7/6/2019]
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