3.6.19

Morreu Agustina, a sua obra permanece





Faleceu esta madrugada, na sua casa da Rua do Gólgota, sobranceira ao rio Douro, no Porto, a escritora Agustina Bessa-Luís. Tinha 96 anos e foi a maior romancista portuguesa e um dos nossos principais escritores de sempre.
A morte, tão tranquila como a morte pode ser, ocorreu após mais de 10 anos de afastamento da autora de A Sibila e Fanny Owen da vida pública, em consequência de dois acidentes vasculares cerebrais, de que em parte recuperara.
O corpo de Agustina vai estar em câmara ardente na Sé Catedral do Porto a partir das 10h30 horas de amanhã, dia 4, onde às 16 horas serão celebradas Exéquias Solenes, por D. Manuel Linda, bispo do Porto, seguindo depois para o Cemitério do Peso da Régua, onde será sepultado em família.
A Relógio D’Água, em relação com a família de Agustina, o marido Alberto Luís, entretanto falecido, a filha Mónica Baldaque e a neta Lourença Baldaque, tem reeditado a sua obra desde Junho de 2017.



A preocupação foi proceder a uma rigorosa fixação dos textos e solicitar prefácios a escritores que pudessem ajudar a divulgar a obra junto dos leitores de todas as idades. Foram assim publicados A Sibila (prefácio de Gonçalo M. Tavares); Dentes de Rato (ilustrações de Mónica Baldaque); Vale Abraão (prefácio de António Lobo Antunes); Fanny Owen (Hélia Correia); O Mosteiro (Bruno Vieira Amaral); Deuses de Barro (Mónica Baldaque); A Ronda da Noite (António Mega Ferreira); O Manto (João Miguel Fernandes Jorge); Os Meninos de Ouro (Pedro Mexia); Ternos Guerreiros (Agustina Bessa-Luís); Três Mulheres com Máscara de Ferro; As Estações da Vida (António Barreto); O Susto (António M. Feijó); As Pessoas Felizes (António Barreto); e Party e A Casa Diálogos (Agustina Bessa-Luís e António Preto).
A Relógio D’Água tudo fará para que a obra de Agustina esteja acessível aos leitores, o que inclui os livros esgotados ou há muito inacessíveis e também inéditos, entre os quais os seus primeiros contos e a correspondência com Juan Rodolfo Wilcock.



O Sermão do Fogo será o próximo romance a assegurar a permanência da autora, que praticou os mais diversos géneros literários, romance, conto, crónica, biografias, livros infantis, correspondência, peças de teatro e argumentos cinematográficos. Uma obra iniciada no final dos anos 40 e que rompeu com o neo-realismo e o surrealismo então dominante, criando alguns dos mais marcantes personagens, sobretudo femininos, da literatura portuguesa, como a Sibila ou Fanny Owen.


Francisco Vale

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