«No livro “China em Dez Palavras”, colectânea de textos ensaístico-memorialísticos escritos em 2009 — o primeiro dos quais tem sido publicado em The New York Times para assinalar os vinte anos transcorridos sobre o massacre de Tiananmen —, Yu Hua (n. 1960) comenta assim o encontro que tivera no ano anterior com um enviado daquele jornal norte-americano a Pequim para entrevistá-lo: “Parecíamos dois pescadores de memórias, sentados junto ao rio do tempo à espera de que o passado se prendesse no anzol.” A imagem é bastante apropriada para descrever a estrutura, de uma simplicidade estonteante, de “Viver”, o primeiro romance publicado pelo escritor chinês,e m 1993. O narrador começa por explicar-nos que ouvira, dez anos antes, a história que nos vai ser contada. Havia arranjado “um trabalho muito agradável, em que tinha a função de percorrer os campos e as aldeias para recolher canções populares” (p. 7) — e não podemos deixar de recordar como, no volume de memórias e ensaios acima referido, o autor alude à inveja que sentia da vida folgada dos “funcionários do departamento cultural” da pequena vila do sul da China em cujo hospital passou cinco anos a arrancar dentes, antes de se tornar escritor a tempo inteiro. Sentado à sombra de uma árvore, numa certa tarde, o narrador observa um velho camponês incitando um boi a trabalhar a terra. Interpela-o. O velho, chamado Fugi, contra-lhe a sua história. A história que iremos ler, na primeira pessoa do singular.» [Mário Santos, ípsilon, Público, 25/1/19]
25.1.19
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