11.9.18

Yu Hua na Revista LER




No número de Verão da Revista LER, Maria João Marques escreve sobre Yu Hua:

«O meu primeiro encontro com Yu Hua foi tão inesperado como o último, quando de repente, mal chegada à Feira do Livro este ano ainda sem farturas compradas nem raspanetes dados aos meus filhos por se tentarem afincadamente perder na confusão, encontrei Yu Hua a autografar livros na barraquinha da Relógio D’Água —a editora portuguesa do autor. Correi a comprar o penúltimo “China em Dez Palavras” do stock, guerreei com uma chinesa que me queria passar à frente na fila dos autógrafos, mais à frente estava outra chinesa com uns seus ou sete livros para irem ao carimbo do autor que infelizmente não reparou no meu revirar de olhos por todo o tempo que me iria fazer tardar,finalmente chegada a minha vez declarei-me uma “huge fan”, informei que tinha livro todos os livros, tirei selfie com um Yu Hua sorridente e, por fim, passei à frente na feira deixando o autor provavelmente aliviado por ter sobrevivido a tanta devoção literária.
(…)
Estas “Crónicas” [de Um Vendedor de Sangue] são um romance simultaneamente negro e benigno. As descrições dos efeitos da venda de sangue são com frequência repletas de humor, como quando Xu Sanguan descobre que, segundo a voz popular, vender sangue e ter sexo no mesmo dia é receita para morrer — depois de ter feito ambos. Não obstante, o humor do autor e os nossos sorrisos durante a leitura não apagam a perceção de que, tal como havia sucedido com Youqing em “To Live”, a realidade da China de facto sugava o sangue — e a vida — dos chineses.



Do lado oposto ao homem que por amor à família vai vendendo o sangue, temos o chefe do serviço de sangue do hospital, mais um oficial corrupto que compra sangue a quem lhe oferece bons subornos (em espécie ou dinheiro). Este comércio particularmente ascoroso reaparece no “China em Dez Palavras”, no ensaio “Grassroots” [Raízes-de-Erva]. Yu Hua dá conta de como os mercadores e intermediários do sangue se tornaram milionários na China fora da ficção. Da China comunista que vampiriza os súbditos passou-se à China capitalista, onde absolutamente tudo se vende sem escrúpulos.» [Maria João Marques, revista LER, Verão 2018]


De Yu Hua,a Relógio D’Água publicará em breve «Viver».

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