Maria Filomena Mónica em entrevista a Isabel Lucas, a propósito dos dois livros que publicou recentemente, um deles o livro de crónicas Nunca Dancei num Coreto
«Chama a estas crónicas “uma escrita efémera”. É a escrita dos jornais, mas tem outra experiência, a das memórias, a da biografia, o ensaio, a escrita com mais tempo. Em qualquer dos casos, quase sempre se expõe.
O jornalismo ajudou-me imenso na academia. Ajudou-me num estilo mais claro. Preocupo-me que as pessoas entendam o que estou a dizer. O facto de eu ter alguma cultura geral que vem da academia ajudou-me no jornalismo. Quando escrevo que ia a sair de casa e encontrei um passarinho, não estou a falar de um episódio sem significado. Tento é pegar num pormenor e ver se daquele pormenor posso falar de um problema mais geral. Se encontro um menor a viver numa cabana e que é abandonado por todas as instâncias da assistência social, posso falar dele e da vida dele, mas depois tenho de abrir a lente e falar do problema estrutural. Acho que a academia e o jornalismo se podem casar muito bem. O jornalismo ajudou-me muito a sair de uma espécie de jaula que é o jargão académico.
(…)
Escreve no prefácio que estas crónicas são comentários sobre os seus dias. Outra vez o registo pessoal. Como é que prepara estes textos?
É. Sou relativamente disciplinada e ansiosa. Pego naquele papel que está ali, tiro uns apontamentos, penso no que poderei falar, ponho cinco ou seis temas. Vou riscando alguns. Tenho de entregar os textos à quinta, escrevo à terça, mas já tenho de ter a coisa bastante elaborada na cabeça. Como agora não saio e não tenho vida social, isso permite-me ter um controlo maior sobre o meu tempo, já não tenho filhos nem netos pequenos com pequenos acidentes. O único acidente que tenho é o meu corpo, se amanhã tiver de ir ao hospital por qualquer razão, não faço a crónica. Mas tendo a ser disciplinada e a não deixar até ao último dia. Há temas em que me custa meter porque são muito especializados.» [Maria Filomena Mónica em entrevista a Isabel Lucas, Público, 6/9/2018. Entrevista completa em: https://www.publico.pt/2018/09/06/sociedade/entrevista/nao-sou-capaz-de-estar-feliz-mais-de-cinco-minutos-1843148 ]
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