31.1.18

António Barreto entrevistado por José Cabrita Saraiva no jornal Sol de 28 de Janeiro de 2018




«A sua mais recente obra chama-se De Portugal para a Europa (ed. Relógio d’Água). Foi apresentado na passada quinta-feira na Academia das Ciências de Lisboa e faz uma radiografia do país, das suas virtudes e debilidades, no contexto da integração europeia.
O escritório ocupa um piso inteiro de um edifício antigo. Nas diferentes divisões verifica-se uma constante: livros, livros e mais livros. «Há um velho ditado que diz que o saber não ocupa lugar. Ocupa imenso», graceja. Uma das divisões está a ser preparada para ficar dedicada à fotografia, atividade a que Barreto continua a dedicar-se apaixonadamente. Ao mesmo tempo, continua sempre a congeminar novos lançamentos. «Agora estou a tentar pôr a cabeça e as minhas notas em ordem, para atacar um ou dois livros novos que quero fazer nos próximos dois anos».
De Portugal para a Europa. A sua ideia, quando escolheu este título, era aludir à evolução de um país fechado sobre si próprio para um país que pertence à Europa? - e digo pertence no sentido em que ‘faz parte de’, mas também no sentido em que ‘obedece a’.
Eu não me ocupo da parte histórica, mas a mecânica do título pode sugerir isso. Nós vivemos outros ciclos temporais - de Portugal para o Atlântico, para a África, para a Ásia. Em Vila Real, há uns 70 anos, numa situação qualquer de nervoseira, havia sempre alguém que dizia esta frase esquisita: ‘Calma no Brasil, que Angola é nossa’. Deve ser qualquer coisa do século XIX, quando o Brasil declarou a independência, e para quem se atemorizava com a perda de rendimentos, dizia-se ‘temos Angola’.
Pelo menos havia essa alternativa.
Nos anos 50 e 60, sobretudo depois de começar a guerra, gradualmente forjou-se esta dicotomia ‘Europa versus África’. No fim da guerra havia três alternativas para Portugal: a solidão, que é sempre possível, o caminho da Europa, ou outros caminhos incertos. Os portugueses adotaram o caminho da Europa. Creio que foi uma decisão acertada da elite política e das populações. Lamentavelmente nunca houve um referendo, nunca houve um voto popular sobre isso.
E agora, já é demasiado tarde?
Ainda estamos a tempo. Vamos ter novas Europas, há coisas novas à nossa frente. Já houve uma Constituição Europeia que vários países votaram e Portugal não votou, mais uma vez. Os ensaios e as conferências que estão aqui foram escritos nos últimos dez, doze anos, e em geral tentam olhar para o período da integração europeia até hoje - resultados, tensões, contradições. Tomo partido pela Europa, sem qualquer dúvida, apesar de ser hoje um europeu sofrido. A minha Europa não é esta, a minha Europa desejada é mais próxima da Europa das Nações do De Gaulle, uma Europa de países independentes, que tem um mercado comum, um mercado livre, um mercado único, eventualmente, mas que não tem muitas instituições comuns. Talvez uma ou outra, mas acho que este caminho constante para a federalização da Europa vai criar crises umas atrás das outras.
Como o Brexit?

A crise inglesa creio que é um bom exemplo. Grande parte dos europeus olha para isto como um castigo: a Inglaterra está a ser castigada. Eu lamento. Acho que a Europa perdeu com a saída da Inglaterra, vai perder ainda mais, vai ser difícil viver sem a Grã-Bretanha e para a Grã-Bretanha também imagino que vai ser difícil viver sem a Europa. Foi um duplo erro.»

A entrevista completa pode ser lida aqui.

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