10.10.17

Agustina nas palavras de Joana Emídio Marques




A propósito da reedição da obra de Agustina Bessa-Luís, a jornalista Joana Emídio Marques escreve no Observador:

«Por isso, tendo nascido em 1922, tendo publicado o primeiro livro em 1948, Agustina Bessa-Luís é, foi, uma mulher e uma escritora onde poderemos sempre encontrar “o nosso tempo”, que será sempre nossa contemporânea, nossa mestre, nossa guia, a sibila que Virgílio fez acompanhar Eneias na sua descida aos infernos, a que se fez intermediária da palavra divina, a que desvenda o futuro mas não deixa de ser enigmática. Porque, como Dostoievsky ou Musil, sempre escreveu sobre os mundos interiores da condição humana.

Ou, nas palavras de Sílvina Rodrigues Lopes, escritora e docente na FCSH, ao Observador “a escrita de Agustina distancia-se completamente das ideologias do progresso e das suas conceções monolíticas da atualidade. Nessa escrita, a relação com factos históricos retira-os à contextualização historiográfica para os integrar em perspetivas construídas ficcionalmente, contrariando a tendência para conceber homogeneidades epocais.”

Portanto, se há algo que convém sublinhar é que neste momento não se pode continuar a deixar Agustina fora dessa modernidade radical, que desestruturou a literatura portuguesa a partir dos anos 50, que inaugurou um novo território ficcional fora dos movimentos literários, como o fizeram Maria Velho da Costa, Maria Gabriela Llansol ou Nuno Bragança. Não se pode falar das escritoras que contribuíram para o repensar da condição feminina sem parar na obra de Agustina Bessa-Luís.

Pedro Mexia, que assinará o prefácio de Os Meninos D’ Ouro, diz-nos mesmo que “Agustina escolheu o romance porque este género era o que mais liberdade lhe dava para escrever segundo as regras que ela própria criava. De certa forma ela escreve contra o romance porque as obras dela são na verdade híbridos, onde a ficção se cruza com o ensaio, onde ela parece ter mais vontade de refletir, de investigar do que de contar histórias”.» [8/10/17]

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