15.12.16

Sobre No Outono, de Karl Ove Knausgård






«Depois, à medida que uma enganadora anarquia nos vai tocando de diferentes maneiras, percebe-se que há neste volume de uma série de quatro (cada um para uma estação do ano) uma deliberada aposta de viajar em múltiplos sentidos: do banal absoluto caminha-se, com sintética segurança, para algo que chega à transcendência, enquanto esta pode acabar utilizada como ponto de partida para um relato aparentemente trivial. Há, neste jogo de opostos, algo que vai crescendo à medida que se avança pelas páginas, amiúde carregadas de surpresas: a ideia de que o autor consegue, mesmo diante de algo “disponível” à observação de todos, ver mais longe, olhar mais fundo. Entenda-se: não há aqui ficção, mas sim uma retorcida “fricção” entre a realidade e tudo aquilo que dela pode nascer. Até uma filha, que há de juntar-se a rituais e rotinas, imprevistos e memórias que , nem sempre de uma forma elegante ou suscetível, de cativar, nos entram pelos olhos dentro. E o desfecho pode ser este: com os mesmos dados, qualquer um poderia escrever o que aqui aparece, Mas mais ninguém o fez, pelo menos assim, sem truques nem máscaras.» [João Gobern, Diário de Notícias, 9-12-2016]

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