«28
de agosto. Agora, no momento
em que escrevo isto, não sabes nada, nada do que te espera, do mundo a que vais
chegar. E eu nada sei de ti. Vi uma imagem na ecografia, e pus uma mão sobre o
ventre em que estás, é tudo. Faltam seis meses para nasceres e muito pode
acontecer durante esse tempo, mas eu creio que a vida é forte e inexorável, e
creio que tudo se vai passar bem contigo e que vais nascer perfeita, saudável e
forte. Vir à luz, diz-se. Quando a tua irmã mais velha, a Vanja, nasceu, era de
noite, a neve rodopiava na escuridão. Um momento antes de ela nascer, uma das
parteiras puxou-me, tu vais recebê-la, disse ela, e foi o que fiz, um bebé
deslizou para as minhas mãos, escorregadio como uma foca. Eu estava tão feliz,
que até chorei. Quando a Heidi nasceu, um ano e meio mais tarde, era outono e o
céu estava encoberto, o tempo estava frio e húmido como pode estar em outubro,
ela chegou de manhã, o parto foi rápido, e quando a cabeça estava de fora, mas
não o resto do corpo, ela emitiu um pequeno som com os lábios, foi um momento
tão sereno.»
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