15.6.16

Sobre Ensaios Escolhidos, de George Orwell (trad. José Miguel Silva)





«No sentido que Montaigne lhe deu, o ensaio é uma aproximação a um tema. Ao contrário da posterior versão académica, ele não se pretende impessoal, valendo justamente por nos fazer sentir a voz do seu autor. Quando Orwell descreve as ilusões de H. G. Wells sobre um futuro governo mundial, facilmente ouvimos o socialista que adquiriu consciência aguda daquilo que prioritariamente move os povos. Não qualquer impulso da solidariedade universal, mas o nacionalismo, um fenómeno cuja análise e tipologia são feitas num ensaio posterior.

A outro nível, as considerações de Orwell a propósito dos primeiros poemas de Eliot são um modelo de bom senso: “A consciência da inutilidade de tudo é feita unicamente para os jovens. Não se pode viver no ‘desespero’ até à velhice. Não se pode ser ‘decadente’ a vida toda, porque decadência significa queda, e só se pode dizer que alguém está em queda se for chegar ao fundo razoavelmente depressa.” Até a explicação da resistência de Tolstoi a Shakespeare consegue descer a um nível relativamente simples de interpretação psicológica (“Tolstoi não podia ter paciência para um escritor caótico, divagante e amigo de minudências como Shakespeare.. A sua reação é a de um velhote irascível importunado por uma criança barulhenta”) sem por isso se tornar banal ou implausível. Estas amostras dão ideia da diversidade de temas tratados neste livro.» [Luís M. Faria, Expresso, E, 11/6/2016]

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